EBD – Lição 12: O Tríplice Propósito da Profecia

 
     Nos dias de hoje é tão importante para o crente saber o propósito real da profecia tanto quanto era para os crentes coríntios dos tempos de Paulo. Pois é assim que a igreja saberá como usá-los (os dons, incuindo o de profecia) para o bom desenvolvimento da sua missão na terra.
I.  OS DONS ESPIRITUAIS
     Paulo era consciente da desordem do culto na igreja de Corinto (1Co 14. 26, 40). Ele escreveu seu extenso conteúdo sobre o assunto na carta que enviou aos irmãos coríntios visando fazê-los entender as verdades éticas e espirituais envolvidas na manifestação e uso destes dons no culto. Vejamos algumas das explicações que Paulo expôs aos irmãos para seu melhor entendimento sobre o assinto:
      1. As designações dos dons espirituais. Várias são as designações usadas para indicar os dons espirituais (1Co 12. 4-6). Suas designações dependem do ponto de vista abordado, o que mostra verdades particulares dos dons como um todo. Assim pois, do ponto de vista do Espírito Santo, suas dádivas são chamadas de dons (Grego: karismata - 1Co 12. 4, 7, 11) o que mostra a fonte dos dons e os menciona como presentes de Deus (Rm 1. 11; 5. 15, 16; 6. 23; 11. 29; 12. 6; 1Co 1. 7; 7. 7; 12. 4, 9, 28, 30, 31; 2Co 1. 11; 1Tm 4. 14; 2Tm 1. 16; 1Pe 4. 10), isto significa que nenhum crente poder afirmar ser dono de algum dom. Do ponto de vista de Jesus Cristo, são considerados como ministérios (Grego: diakonia – 1Co 12. 7; Rm 12. 7) ou seja, como responsabilidades dadas aos salvos e uma oportunidade de melhor servir na edificação da Igreja de Cristo (At 6. 4; 20. 24; 21. 19; Rm 12. 7; 2Co 3. 8; 5. 18; 9. 1, 12; Cl 4. 17; 1Tm 1. 12; 2Tm 4. 5; Ap 2. 19). Isto contradiz a idéia errônea que havia na igreja de Corinto de que alguns crentes eram mais espirituais do que outros devido a uma “hierarquia” de dons. Paulo dá a entender que, quem mais afirma ter dons é quem mais deve servir, e não ser servido ou exaltado. Do ponto de vista de Deus Pai, os dons são operações (Grego: energemata – 1Co 12. 6, 10) ou seja, resultados visíveis de uma operação invisível. Os dons revelam o poder visível do Deus invisível (Mc 6. 14; cf., Ef 1. 19; 3. 7). 

     Vejamos os significados dos termos que designam os dons do crente cheio do Espírito Santo, que o capacita para realizar a obra de Deus:

     (A) Dons espirituais (pneumatikos – 1Co 12. 1). São presentes espirituais que manifestam a presença poderosa do Espírito Santo.

     (B) Dons da graça (karismata – 1Co 12. 4). Ressalta o ato gracioso de Deus em doar os dons. Neste sentido os dons são dados da mesma forma que a salvação, ou seja, gratuitamente.

     (C) Ministérios (diakonia – 1Co 12. 5). Os dons podem ser tanto habilitações especiais quanto as próprias pessoas especiais capacitadas por eles. Um dom não faz a pessoa mais especial que outra, porém dá-lhe mais responsabilidade. Neste sentido os dons são responsabilidades específicas concedidas aos crentes, que servem como administradores (mordomos) destes dons, para o seu Senhor. O próprio Senhor dá a responsabilidade e capacita sobrenaturalmente o crente ou a Igreja a cumprir as próprias responsabilidades por Ele conferidas.

    (D) Operações (energematon – 1Co 12. 6). Destaca a ação divina poderosa visível através de um instrumento humano frágil, ao agir esta força invisivelmente no interior deste instrumento. É um dos paradoxos preferidos de Deus, usar o fraco com sua divina força (Is 40. 29; Joel 3. 10; 1Co 1. 27-29; 2Co 3. 5; 4. 7, 16; 12. 10; Hb 11. 34).

    (E) Manifestações (φανερωσις, phanerōsis – 1Co 12. 7). Destaca a intervenção divina que provoca admiração.

     2. O conceito dos dons espirituais no pensamento paulino. Em alguns textos em que o apóstolo Paulo fala sobre os dons, podemos perceber o entendimento dele acerca deste assunto pelas expressões por ele usadas. São várias as referências que tratam dos dons espiritua­­­­­­is – esta palavra aparece em Rm 1. 11, no grego χάρισμα ὑμῖν πνευματικὸν (chárisma úmin pneumatikon, literalmente significa “dádivas espirituais”, “dons concedidos pela graça” ou ainda, “presentes dados pelo Espírito”). No entanto, a palavra mais comumente usada para descrever os dons do espírito é a palavra grega carismata (charismata, dons, dádivas – tendo o sentido de presentes, por serem dados de graça e sem o merecimento de quem o recebe). Esta palavra é derivada do verbo carizomai (charizomai, significando “dar generosamente, gratuitamente”), cuja raiz vem da palavra χάρις (cháris, dom imerecido, ato gracioso e benevolente de Deus). Aparece verbalmente em Rm 8. 32; 1Co 2. 12 e Gl 3. 18, podendo ser traduzida como “conceder gratuitamente”. Assim como Deus concede sua salvação aos perdidos pela sua χάρις (graça, veja Rm 5. 15, 16; 11. 29), também concede capacitação aos salvos por vários implementos através dos seus carismata (dons, veja 1Tm 4. 14; 2Tm 1. 6; Rm 12. 6, 8). 

      Uma palavra também usada para destacar os dons espirituais é a palavra των πνευματικων (ton pneumatikon), que literalmente significa “do Espírito”, neste contexto, ela aparece em (1Co 12. 1 e 14. 1), destaca que a fonte dos dons é o próprio Espírito Santo. 

    Outras palavras que referem-se aos dons do espírito, porém raramente usadas neste sentido, são doma (Ef 4. 8) e dorea (At 11. 17). 

     Baseando-nos nestes textos e suas expressões, podemos dizer que, para Paulo, os dons espirituais são como “acessórios” (ou recursos adicionais) dados por Deus, através do Espírito Santo, no crente que já foi revestido pelo batismo pentecostal. 

     Os dons diferenciam-se do fruto do Espírito por serem algo que acontecem dependendo da ocasião, da necessidade, do propósito e da vontade de Deus para que possam se manifestar, visando a capacitação espiritual do salvo, enquanto que o fruto desenvolve-se gradativamente no caráter do crente, visando seu aperfeiçoamento moral, não sendo algo momentâneo como os dons. Os frutos do Espírito também não são a mesma coisa que talentos morais espirituais, pois talento é algo natural, e o fruto do Espírito no caso seria uma característica moral humana sobrenaturalmente bem desenvolvida, enquanto o dom é uma capacitação espiritual poderosa, não envolvendo ambos méritos humanos. 

    3. Algumas analogias. 1. Digamos que você tenha uma moto. Antes não tinha, mas agora tem. Aí está a diferença entre o crente batizado com o Espírito Santo e o que não é batizado: o batizado com o Espírito pode cumprir com o propósito de Deus mais eficazmente do que um crente que ainda não recebeu o batismo, da mesma forma que uma pessoa de moto pode chegar mais rapidamente a algum lugar do que uma pessoa que vá até lá a pé. 

      Agora imaginemos que você comece a comprar alguns acessórios para sua moto: um motor turbinado, retrovisores maiores, pneus revestidos, ralhos e calhas cromados, amortecedores dianteiros e traseiros melhores, etc. Assim é com os dons espirituais – funcionam como acessórios para o batismo com o Espírito Santo, melhorando o desempenho e a utilidade do salvo no serviço e na adoração, seja espiritual (individual) ou eclesiástica (coletivamente), 1Co 14. 12. 

     A maior diferença entre um crente usado pelos dons espirituais e uma moto equipada com vários acessórios é que com os dons espirituais pode-se fazer muito mais do que com uma simples moto incrementada. 

2. Uma outra analogia temos na questão do casamento. A noiva podia ser adornada. Várias pérolas poderiam ser incluídas na sua grinalda e na cauda do seu vestido, além de outros enfeites. Em que as pérolas e enfeites ajudam a noiva com relação ao noivo? Eles tornam a noiva mais bonita aos olhos do noivo, da mesma maneira que uma igreja adornada com as pérolas dos dons espirituais é bela aos olhos do noivo Jesus, quando sabe usar estes dons de forma equilibrada. 

3. A analogia usada por Paulo em 1Co 12. 12-27 que mostra a união do corpo na diversidade de membros,
que, sendo muitos, têm o mesmo objetivo, mesmo possuindo diferentes funções, aplica-se muito bem aos dons espirituais no sentido de ressaltar que os dons são unicamente para a promoção do bem-estar e unidade da igreja como um todo, que é o corpo de Cristo. Os dons não têm por objetivo causar divisões, exaltar a espiritualidade de quem os exibe ou serem usados para firmarem alguma doutrina estranha à fé pura e à sã doutrina bíblica. Cada dom contribui harmonicamente para o funcionamento, crescimento e desenvolvimento da obra de Deus na terra, através da sua Igreja. 

     “Cada um, pois, aproveite-se da manifestação do Espírito em si, e também a use em proveito de toda a Igreja” (1Co 12. 7). Este princípio de ‘partilha’ é muito enfatizado no Novo Testamento, não somente por Paulo, como por outros escritores (1Pe 4. 10-11). A Igreja, como mostra Paulo, é um corpo no qual essa parceria íntima deve ser manifesta” (Novo Comentário da Bíblia). 

4. Pedro mostra a analogia do edifício (ou templo) que é edificado (construído) para ser uma casa onde se ofereçam sacrifícios espirituais. Os crentes são as pedras (tijolos) desta construção; Jesus é a Pedra fundamental (alicerce), e esta casa é a igreja. Em que lugar se inserem os dons espirituais nesta ilustração? Os dons tornam os serviços e a adoração mais completos, fazendo parte dos “sacrifícios espirituais aceitáveis em Cristo Jesus”. Veja 1Pe 2. 4, 5. Pedro concorda com Paulo em 1Co 6. 19. Pedro afirma que a igreja é o templo, enquanto Paulo diz que cada crente individualmente é um templo onde Deus habita. Isso mostra que os dons são presentes individuais (dados a cada crente) visando o bem coletivo (a edificação de toda a igreja). 

II. A IMPORTÂNCIA DO AMOR
     No Cap. 12. 28 ao Cap. 13. 13 de 1Co, Paulo vai ao centro do problema da igreja de Corinto: a falta de amor. Naquela igreja haviam tantas querelas infantis por questões tão supérfluas, como cristãos que tinham pendências judiciais com outros membros da mesma igreja (1Co 6), casos de fornicação (1Co 5), etc. Todos reprovados por Paulo. Havia também uma disputa para ver quem era o mais espiritual. Por isso que Paulo falou sobre a unidade do corpo de Cristo e sobre o maior de todos os dons: o amor. 

     De acordo com Paulo, não adianta ter todas as outras características de um servo de Deus(1Co 13. 1-3), se lhe faltar o amor, que é a principal virtude (Jo 13. 35). Em seguida Paulo descreve, neste belo poema, algumas das características deste amor ágape, que eram atitudes que faltavam na vida dos crentes coríntios, vejamos: 

“O amor é muito paciente e bondoso, nunca é invejoso ou ciumento, nunca é presunçoso nem orgulhoso, nunca é arrogante, nem egoísta, nem tampouco rude. O amor não exige que se faça o que ele quer. Não é irritadiço, nem melindroso. Não guarda o rancor e dificilmente notará o mal que outros lhe fazem. Nunca está satisfeito com a injustiça, mas se alegra, quando a verdade triunfa. Se você amar alguém, será real para com ele, custe o que custar. Sempre acreditará nele, sempre esperará o melhor dele, e sempre se manterá em sua defesa” (1Co 13. 4-7, A Bíblia Viva). 

     Infelizmente, esta parece ser uma descrição das atitudes que faltam em muitas igrejas de hoje também! 

     Paulo segue afirmando a qualidade perene e superior do amor sobre os dons espirituais (note que o “amor”  é o primeiro da lista dos frutos do Espírito em Gl 5. 22). Enquanto os dons servirão para a igreja cumprir sua missão somente aqui na terra, cessando quando “vier o (ou aquele) que é perfeito” (grego: το τελειον, to teleion, “completo, maduro, pleno”, ver 1Co 2. 6). Em 1Co 13. 8-10, alguns estudiosos afirmam que este texto está referindo-se à Jesus na sua segunda vinda, com o amor é diferente. O amor supera todas as barreiras, acompanhando os verdadeiros salvos por toda a eternidade. 

   Nos versículos 11-13 de 1Co 13, Paulo finaliza dizendo que é o amor que nos faz crescer em Cristo e deixar as atitudes de criança. Termina falando que o amor é a maior de todas as virtudes (1Co 13.13). 
 
III. O DOM DE PROFECIA
 
     O capítulo 14 de 1Co é dedicado à explicação sobre a importância do dom de profecia.
 
1. A importância do dom da profecia. Podemos perceber a importância do dom profético nos seguintes aspectos:
 
(A)   Quem profetiza na igreja é entendido por todos e por isso, é capaz de edificar mais pessoas do que se estivesse apenas falando em línguas desconhecidas (estranhas), vv. 1-5;
(B)   A profecia, assim como o dom de interpretar línguas, é um dom que é mais bem usado na edificação coletiva dos crentes do que o dom de falar em mistérios com Deus, porque permite que os outros recebam uma mensagem inteligível, além de conservar o entendimento daquele que profetiza (vv. 6-9);
(C)   As línguas estranhas são uma forma de adoração e oração profundas que devem ser desfrutadas  em intima comunhão individual com Deus, enquanto que a profecia e a interpretação de línguas têm um alcance maior de pessoas (vv. 10-19)
 
     Nos versículos 20-40 Paulo sugere certas regras para a manifestação ordeira e moderada dos dons durante o culto de forma a prevenir o escândalo por parte de algum incrédulo presente na igreja e/ou para prevenir a desordem na liturgia do culto a Deus.
 
2.  As características do dom da profecia. A profecia é o dom mais benéfico por causa de seus objetivos e funções. Estas são as características que fazem do dom de profecia o dom que mais edifique a igreja, exatamente porque este dom promove:
 
(A) A edificação (Gr. οικοδομην, construção). Esta palavra,  de acordo com Strong, é um feminino abstrato da união de duas palavras: oikos (oikos, “casa”) + dwma (doma, “construção”), daí, fala do ato de “construir uma casa”. É usado metaforicamente para designar o processo de edificação, ou seja, o ato de alguém que “constrói” o caráter ou promove o crescimento espiritual de outrem em sabedoria cristã, piedade, felicidade, santidade (1Co 14. 26; 2Co 10. 8; 12. 19; 13. 10; Gl 2. 18). 
 
     Mostra-nos a Bíblia que os crentes que formam a igreja são comparados aos tijolos de uma casa que está sendo construída, ou seja, edificada (1Pe 2. 4, 5) e revela que o objetivo desta construção é de fazer com que esta “casa” (os crentes, a igreja Hb 3. 6) torne-se um santuário dedicado à Deus, uma habitação onde Deus vive através do seu Espírito (Ef 2. 19-22). Podemos dizer que o objetivo de oikodomhn (Gr. “edificação”) é fazer o crente participar da koinwnia (Gr. “comunhão”) Veja 1Jo 1. 3, 6, 7
 
     A Bíblia define “edificar” como “transmitir graça” (Ef 4. 29, RA); construir a vida sobre o alicerce que é Cristo (Ef 2. 20; Cl 2. 7); desenvolver e fortalecer a fé (1Co 14. 12; Jd 20); promover o crescimento por meio do amor (Ef 4. 16); ajudar outros cristãos na fé (Rm 14. 19; 15. 2; 1Ts 5. 11); treinar os novos crentes a desenvolverem e desempenharem seu ministério no corpo de Cristo (Ef 4. 12). Torna-se importante, portanto, ter alguém da igreja que seja separado especificamente para dar assistência espiritual aos  crentes através do dom da profecia
 
(B) A exortação. A exortação era também considerada um dom (Rm 12.8), e era valorizada devido à sua ação de fortalecer a comunhão da igreja, entre seus membros e dos membros para com Deus. A palavra grega παράκλησις paraklesis tem o sentido de “chamar para junto de si”, pois era assim que se fazia quando uma pessoa queria aconselhar alguém de forma carinhosa, demonstrando amor. Era consolar, admoestar, rogar. É dessa palavra que deriva a tradução “advogado” (παράκλητος parakletos, traduzido também como consolador ou ajudador, e tem mais literalmente o sentido de “Defensor, defender”). Veja exemplos em At 2. 40; 11. 23; 14. 22; 15. 32; 1Co 14. 16; Cl 4.8. 

(C) A consolação. Esta palavra vem do verbo grego παραμυθέομαι paramutheomai e significa confortar, admoestar , incentivar, encorajar. É a ação que a profecia tem em dar forças àquele que está fraco na fé lembrando-lhe das promessas de Deus (1Ts 5. 14). Eu pessoalmente já presenciei casos em que certo irmão ao receber uma profecia ficou tão triste pelo tom repreensivo (expresso sem causa) que ele pensou muito em desistir da fé, por causa da “profetada” que recebeu. Isto não é profecia verdadeira, se não cumpre com estes três objetivos principais.Esta mesma palavra grega aparece em Jo 11. 19, 31 e 1Ts 2. 11.
CONCLUSÃO
 
    Que possamos servir a Deus com seus dons, seja na igreja ou no ministério, de maneira a sempre contribuirmos para a edificação de todos.

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        Boa aula!

Pedro M. A. Júnior  Twitter: @jcservo   MSN: jcservo@hotmail.com

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