EBD - Lição 11: O Dom Ministerial de Profeta e o Dom de profeta

    A atualidade dos dons espirituais é asseverada pela doutrina pentecostal, que por sua vez afirma apoiar-se numa interpretação bíblica sadia dos textos referentes às manifestações carismáticas da igreja primitiva, que estão explícitas no livro de Atos dos Apóstolos, detalhadas nas explicações encontradas nas cartas de Paulo e confirmadas nas mesmas manifestações destes dons durante a história da igreja.

     Sempre existiram igrejas tradicionais, em que as manifestações dos dons eram muito raras, para não dizer inexistentes. Isto deve-se ao fato de tais igrejas crerem que os dons espirituais (como no caso do dom de profecia) ficaram resignados somente ao tempo dos apóstolos do Séc. I. No entanto, entendemos que a igreja, que foi chamada para pregar e testemunhar o evangelho e é capacitada pelos dons para cumprir satisfatoriamente o “Ide” de Cristo (At 1. 8), será sempre suprida por estes dons (At 2. 39), para cumprir a sua missão de evangelizar até o dia em que Cristo voltar (1Co 13. 9-12).

    Por isso, nós, como evangélicos não tradicionais, mas pentecostais, devemos entender a diferença entre o dom e o ministério de profecia, pois eles fazem parte da “multiforme graça de Deus” (Ef 3. 10; 1Pe 3. 10) e estão destacados em nossa experiência como igreja de Cristo. Esta lição será proveitosa para este fim.


ALGUMAS VERDADES SOBRE O DOM DE PROFECIA
    Antes de falarmos especificamente sobre o dom de profecia, iremos dar uma visão geral sobre o tema, para que fiquem bem estabelecidos alguns conceitos básicos.
    1. Contexto bíblico/teológico dos dons espirituais. Os dons equipam os salvos (isto é, a igreja) para melhor servir, com o objetivo de edificar o corpo de Cristo e testemunhar ao mundo a salvação divina. Isso mostra que todo o crente pode ser útil no Reino de Deus, como nos revela Mt 4. 19; 1Co 12. 7, 11; Ef 4. 7, 8. Jesus relaciona a manifestação dos dons espirituais com a pregação do evangelho na versão da grande comissão relatada pelo evangelista Marcos (Mc 16. 15-17; Cf., Hb 2. 3, 4). 

      São várias as referências que tratam dos dons espiritua­­­­­­is – esta palavra aparece em Rm 1. 11, no grego χάρισμα ὑμῖν πνευματικὸν (chárisma úmin pneumatikon, literalmente significa “dádivas espirituais”, “dons concedidos pela graça” ou ainda, “presentes dados pelo Espírito”). No entanto, a palavra mais comumente usada para descrever os dons do espírito é a palavra grega carismata (charismata, dons, dádivas – tendo o sentido de presentes, por serem dados de graça e sem o merecimento de quem o recebe). Esta palavra é derivada do verbo carizomai (charizomai, significando “dar generosamente, gratuitamente”), cuja raiz vem da palavra χάρις (cháris, dom imerecido, ato gracioso e benevolente de Deus). Aparece verbalmente em Rm 8. 32; 1Co 2. 12 e Gl 3. 18, traduzida como “conceder gratuitamente”. Assim como Deus concede sua salvação aos perdidos pela sua χάρις (graça, veja Rm 5. 15, 16; 11. 29), também concede capacitação aos salvos por vários implementos através dos seus carismata (dons, veja 1Tm 4. 14; 2Tm 1. 6; Rm 12. 6, 8). 

     Uma palavra também usada para destacar os dons espirituais é a palavra των πνευματικων (ton pneumatikon), que literalmente significa “do Espírito”, neste contexto, ela aparece em (1Co 12. 1 e 14. 1), destaca que a fonte dos dons é o próprio Espírito Santo. 

     Outras palavras que referem-se aos dons do espírito, porém raramente usadas neste sentido, são doma (Ef 4. 8) e dorea (At 11. 17).
     Comparando as referências de Rm 12. 6-8; 1Co 12. 28; Ef 4. 11, entendemos que os dons do Espírito Santo são obras de Deus que atuam em três áreas da vida cristã, pois capacitam o salvo sobrenaturalmente para melhor:
    (A) Servir (a palavra usada neste sentido é ἐνεργήματα, energēmata, aparece em 1Co 12. 6, sendo traduzida na RC por operações, e na e na RA por realizações, significa agir, fazer, produzir algo, ressalta os resultados práticos de alguma obra feita para a glória de Deus (Cf., Ef 3. 7).
   (B) Adorar (φανερωσις, phanerōsis, literalmente “expressão visível”, traduzida em 1Co 12. 7 como manifestação). Esta expressão destaca a força da manifestação dos dons, geralmente relacionada à prática da adoração.
   (C) Ministrar (diakonia diakonia, significa serviço, obra, trabalho, Rm 11. 13; 1Co 12. 5) ao corpo de Cristo, trazendo sua edificação, aprofundamento na comunhão, intensificação na devoção cristã, além de suprir ferramentas poderosas para o testemunho evangelístico. Assim entendemos que os dons espirituais edificam a igreja tanto interna quanto externamente. Ministrar e servir são basicamente a mesma coisa. 

       Já que a palavra grega usada para dons espirituais é carismata (charismata), podemos entender por que todo grupo religioso que dá ênfase à ação sobrenatural do Espírito Santo nos dias de hoje é denominado de grupo carismático. Os carismáticos são geralmente relacionados com os católicos romanos, enquanto os pentecostais referem-se aos grupos evangélicos que têm a mesma ênfase. 

      2. O conceito entre dom e ministério de profecia. Em Ef 4. 11 e 1Co 12. 28, os dons são categorizados e chamados pelos teólogos de dons ministeriais, os quais faremos alguns apontamentos: Os apóstolos, são os missionários pioneiros, aqueles que fundam igrejas onde não havia (Rm 15. 20, RA), são aqueles que exerceram uma autoridade sobre o rebanho de Deus, no nascimento da igreja primitiva (Gl 2. 7). Os apóstolos não são apenas os doze, pois outros são chamados por este título, fossem verdadeiros apóstolos ou apóstolos falsos (Lc 11. 49; At 14. 14; Rm 16. 7; 1Co 12. 28, 29; 2Co 11. 13; Gl 1. 19; Ap 2. 12). O ministério apostólico de hoje não é o mesmo dos tempos da igreja primitiva. Defendemos que hoje ninguém pode-se chamar pelo nome de apóstolo, conquanto que fique claro que tal pessoa não esteja se comparando com os doze primeiros apóstolos, mas assumindo mais uma identidade de missionário como conhecemos hoje. Os profetas como um ministério, tinham a função e exortar os crentes sobre a direção de Deus (1Co 14. 4, 5). Ágabo é um exemplo. Os evangelistas eram os missionários que ganhavam almas para Cristo, sem necessariamente terem uma posição de liderança à frente da igreja. Eram os pregadores itinerantes. Filipe é um bom exemplo (At 8. 5-39). Os pastores e mestres, são aqueles com a incumbência e a capacitação de pastorear a igreja, ministrando-lhe a Palavra às suas necessidades espirituais (Ef 4. 11, 12; 1Tm 5. 17; Hb 13. 17). Os ensinadores que exercem uma posição de liderança na igreja são os pastores, mas os que exercem seu dom de ensinar a Palavra de Deus às igrejas sem necessariamente serem seus líderes são os mestres

     Devemos entender a diferença que a Bíblia faz dos dons. Em 1Co 12. 8-10 temos a lista dos dons para a igreja, ou seja, para os membros em geral. Podemos chamá-los de “dons eclesiásticos”. Já em 1Co 12. 28 e Ef 4. 11 vemos os “dons ministeriais” que são dádivas específicas que Deus outorga aos crentes que desempenham papel de liderança e de orientação à sua igreja. Nos primórdios da igreja primitiva, os profetas da igreja confirmavam as mensagens e os ensinos dos apóstolos através de suas declarações inspiradas, de maneira que, tanto os apóstolos quanto os profetas da igreja primitiva serviram de base para o alicerçamento da igreja (Ef 2. 20). 

    Resumindo a diferença entre dom e ministério, transcrevemos abaixo uma nota da Bíblia de Estudo Scofield,com algumas adaptações. pág. 1091:
        “Em 1Co 12:8-28 o Espírito Santo dota os membros do corpo de Cristo com dons espirituais, dá-lhes a capacidade para o bom  desempenho de serviços variados; aqui, em Ef 4. 11, certos homens dotados pelo Espírito, i. e.,  apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, e doutores são os dons que o Cristo glorificado concede ao seu corpo, a igreja. Em 1 Coríntios 12, os dons são capacitações espirituais para um serviço específico; em Efésios, os dons são homens que têm essas capacitações
     Ao conceder homens com dons, o Senhor determina – de forma providencial (por ex. At 11. 22-26) ou de forma direta mediante o Espírito Santo (por ex. At 13. 1, 2; 16. 6, 7) os lugares onde devem servir. Algumas igrejas ou lugares necessitam de um dom, por ex. um evangelista; outros necessitam de um pastor ou de um mestre. Absolutamente nada no serviço cristão fica para ser decidido ou escolhido pelo próprio homem. Nem mesmo um apóstolo podia escolher seu lugar de serviço (At 16. 7, 8).
CONCLUSÃO
      Cada crente é útil para o corpo de Cristo, inclusive você (1Co 12. 7, 11; Ef 4. 7, 8; 1Pe 4. 10). Mas, antes de encerrarmos, permita-me lembrá-lo de algumas coisas importantes sobre os dons espirituais:
    (A) Alguns dons não influem no caráter moral da pessoa, por isso é necessário enfatizar na vida cristã a importância do fruto do Espírito (Gl 5. 22-24);
  (B) Alguns dons usam a personalidade do crente que os exibe, ampliando suas capacidades naturais sobrenaturalmente, semelhante ao caso de Êx 35. 30-35; 36. 1, 2. Outras vezes o Espírito capacita, dando uma habilidade que não aproveite previamente a capacidade humana;
   (C) Os dons fluem no crente que os executa alegremente, para o bem da igreja. Neste caso o crente usado nos dons deve considerar seu ministério um trabalho honroso que glorifique o nome de Deus e lhe dá a oportunidade de servir ao próximo;
   (D) Deus não obriga ninguém a executar algum dom. Sua força constrangedora é grande, porém, pode ser recusada e resistida. Quem resiste a esta compulsão deve lembrar-se que prestará contas por não ter desempenhado o papel que Deus desejou e ordenou (a história do profeta Jonas ilustra isso. Veja Jr 20. 9; Ez 3. 18, 20; Mq 3. 8).
      Esperamos que este estudo tenha servido para sua edificação, resolução das dúvidas e incentivo para buscar “abundar mais nos dons espirituais” (1Co 14. 12).
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Deus vos abençoe. Boa aula!
Pedro M. A. Júnior.  Twitter: @jcservo    MSN: jcservo@hotmail.com
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